terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Seja uma mãe ou um pai "MAU"

09por Rosangela Quintanilha - psicóloga



"Um dia, quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes:



- Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.

- Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia. Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e os fazer dizer ao dono: "Nós pegamos isto ontem e queríamos pagar". Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos. Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos. Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.

Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes não, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em momentos até odiaram). Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci... Porque no final vocês venceram também! E em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer: "Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo...".
 - As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos que comer cereais, ovos e torradas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas.


E ela nos obrigava a jantar a mesa, bem diferente das outras mães que deixavam seus filhos comerem vendo televisão.

Ela insistia em saber onde estávamos a toda hora (tocava nosso celular de madrugada e "fuçava" nos nossos e-mails). Era quase uma prisão.Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistia que lhe dissemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela "violava as leis do trabalho infantil". Nós tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse tipo de trabalho que achávamos cruéis.
Eu acho que ela nem dormia à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer. Ela insistia sempre conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade.


E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata. Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos, tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer. Enquanto todos podiam voltar tarde à noite, com 12 anos, tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa ( só para ver como estávamos ao voltar).
Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência: Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime.
 FOI TUDO POR CAUSA DELA. Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos "PAIS MAUS", como minha mãe foi."


(Dr. Carlos Hecktheuer)





4 comentários:

  1. Criar filhos é mesmo muito difícil!! Apesar de não ter passado por essa experiência, tenho consciência de que provavelmente, teria errado também. Erraria por amor, erraria por não ter coragem de dizer não mesmo sabendo que deveria dizer não! As pessoas temem dizer não, não apenas para os filhos, mas de maneira geral. Temem desagradar,temem ser vistas como grosseiras ou intolerantes. Mas dizer não é a expressão do amor. O amor que sabe que precisa fazer o que é certo agora porque é a única forma de construir um futuro melhor para os filhos. É preciso entender que os pais ajudam a construir os cidadãos e a sociedade. É dizendo NÃO nas horas que seria mais fácil e menos trabalhoso dizer SIM, criando conflitos quando o sim traria só alegrias, que os pais verdadeiramente amorosos ensinam seus filhos a caminhar na vida e no mundo.

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  2. Obrigada, Marcia, por prestigiar!
    Voce está certa, as pessoas buscam a aprovação do outro, mesmo que isso custe a omissão, talvez a má formação moral ou inversão de valores enfim.. Um "não" quando colocado com empatia, convicção, com justificativa (e sem a rigidez da eternidade, ou seja, com direito a ser um SIM no futuro!) pode ser de fato uma atitude de amor.
    Um grande beijo pra voce. Com MUITO amor!

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  3. Demonstrar amor pelos filhos é muito mais do que ser permissivo em excesso e depois sofrer consequências desagradáveis. Dizer sim é, momentâneamente, mais simples e cômodo. Dizer não, algumas das vezes é demonstrar mais amor do que se pensa. Parabéns pela escolha do texto, só poderíamos esperar algo de extremo bom gosto e singular sâbedoria.

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  4. É com o tempo e amadurecimento que agente da valor quando nossos pais eram "maus", porque agente sente o amor e a preocupação. Isso que é sabedoria.Adorei.
    [topmodelnext.blogspot.com]

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